Sim, a morte é inevitável. Você verá algo ou alguém morrer, antes mesmo da sua própria morte.
Na programação psicobiológica do nascer está contida a vivência do morrer, assim como também, existem pré-requisitos biológicos para ingressar na vida como a respiração ou o pulmão e o coração, ou requisitos psíquicos, como o eixo ego-self ou o consciente-
inconsciente.
No entanto, para viver no cotidiano, não é preciso pensar no funcionamento expande-contrai do coração/pulmão, nem no funcionamento ego/self, e nem também, que um dia se irá morrer.
Não é preciso, porque como não há precisão nessas invisibilidades corriqueiras, a atenção passa a ser dirigida para as necessidades mais concretas, palpáveis, visíveis.
Todavia, há que se concordar:
Se você pratica atividades físicas que amplia seu sistema cardiorrespiratório; se você pratica atividades mentais de autoconsciência que amplia o seu olhar para o seu eu que fala acordado (ego) e o seu eu que sonha dormindo (self); por que não ampliar sua qualidade de vida,
aceitando, respeitando e aprendendo sobre a morte e o morrer, inicialmente do outro, e finalmente a sua própria?
O que acontece, na maior parte das vezes, com a maioria das pessoas, é que se liga “o carro da vida” no semiautomático, ligando apenas alguns dos botões do painel, diariamente:
Botão 1: “Faça o que os outros querem que você faça” Botão 2: “Estude e trabalhe para vencer na vida”
Você faz isso, e, alcança seu primeiro terço de vida (imaginando aquela tão desejada vida que perdura até a velhice…), mas sente ainda que algo necessita melhorar… então, você resolve aprimorar suas habilidades, suas mobilidades, seu “automóvel”, cujo o novo painel oferece um “upgrade” dos botões 1 e 2:
Botão 1: “Faça o que você quer fazer” Botão 2: “Deixe a vida te levar.”
Nesse segundo terço da vida, você já está cansado de fazer pelo outro, no ritmo do outro, para sustentar também o outro. Agora, você quer resgatar a espontaneidade da sua criança interior e viver a vida, um tanto, sem regras, sem planos, até porque, provavelmente, muito do que você planejou deu meio certo e meio errado. Lembrando que a parte errada, deixou marcas no seu corpo e na sua mente, que se não doem, causam um “leve” incomodo.
E, então, chega-se no terceiro terço da sua vida, a terceira idade (ou quarta), onde você está prestes a se aposentar; a ser avô/avó; a enterrar/cremar os pais, familiares mais velhos, amigos que tiveram vidas mais trabalhosas, adoecidas e/ou “magoantes”; a olhar finalmente para a saúde corporal, buscando métodos corretivos e de rejuvenescimento, ou paleativos e evitativos das doenças mais graves; indo para terapias para executar o balanço contábil dos
créditos/débitos de suas escolhas, comportamentos e valores; e, por fim, adiando “O DIA” que não se sabe exatamente datar, mas que se tem certeza (a única da vida), que chegará.
E é nesse momento (às vezes até tardio) que a grande questão chega a você, o botão 3 de todos os tipos de carros, botão que é sempre tão negligenciado e é ligado automaticamente, na hora certa, com a pergunta/reflexão:
Botão 3: “Perdi… O que fazer diante da morte, do outro, de algo, ou minha?”
Com medo desse botão escangalhar o seu carro, você sai correndo no comércio e coloca no seu painel um botão tipo substituto do número 3, sem querer ver que é um mero botão
ilustrativo, auto enganador:
Botão substituto do 3: “A ignorância é um santo remédio.”
A ilusão que você compra é pensar que quando a morte bater na sua porta, você não estará vivo e nada mais sentirá… essa é uma ignorância mesmo, por que você antes de morrer, provavelmente, sentirá a dor da perda, da morte de alguém e/ou de algo…
Esclareço, que gosto de nomear “morte morrida” para os seres que pararam de respirar e bater o coração, a tal morte de fato. E chamo de “morte simbólica” várias fases e vivências que se acabaram, como quando a infância morreu, o relacionamento amoroso acabou, a amizade se perdeu, a menopausa chegou, a aposentadoria aconteceu, a doença degenerou… exemplos mais conhecidos de mortes simbólicas, por que existem várias outras a serem aprendidas e
reconhecidas.
Voltando àquele botão enganador, o substituto do 3, aquele que garante à “compra do gato por lebre”, ao instala-lo, você gasta seu dinheiro, tempo e saúde para colocar no carro da sua vida, algo que lhe iludirá e lhe trairá, cedo ou tarde.
Porém, na verdade, cedo ou tarde, não terá jeito, você perceberá que não controla o
verdadeiro botão 3, que automaticamente, no momento devido, pisca para você… por conta desse instante, provavelmente, é que você está aqui comigo, me lendo agora, esperando eu trazer a resposta do enigma do verdadeiro botão 3…
Como todo bom enigma, ele vai se revelando, à medida que você leitor vai amadurecendo a sua escuta, a sua leitura.
Fica comigo: a partir dessa série de artigos, falarei abertamente, com leveza e sinceridade, sobre a natureza da vida e do morrer.
Descreverei sobre o Luto e o arcabouço dos sentimentos e sensações que poderão existir em você, e que são saudáveis. Assim, como também apresentarei a você, quando o luto pode lhe adoecer e como você precisa lutar, muitas vezes, pedindo ajuda profissional, para resgatar a sua saúde.
Falarei sobre o que a morte de algo ou alguém pode lhe convidar a sentir em vez de ressentir, a compreender em vez de julgar, e como se despedir, honrando cada história passada.
E abordarei tudo isso, enfatizando sobre a saúde no viver, diante das mortes simbólicas e das morridas, de forma integralizada, afinal você pode viver três terços de vida, mas não precisa vivê-la fragmentada em três pedaços desconexos. Você é um individuo, indivisível, inteiro, porque é sincronicamente Mente, Corpo e Espírito.
Como uma psicóloga integrativa, trarei o olhar da psicologia, das práticas corporais e da filosofia/religiões/espiritualidade comparadas.
Apesar da sua perda, hoje está um belo dia para viver melhor. Vem comigo.
Um beijo pra você, Fê Matos