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Cada um de nós é uma multidão

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Cada um de nós na multidão

Todos nós temos uma constelação ou sistema interno de partes, construídas a partir de nossa relação com o mundo. Essas partes contêm necessidades e desempenham a função de sobrevivência física emocional do nosso organismo. Cada parte envolve um padrão de comportamentos, pensamentos, sentimentos e sensações físicas e tem uma maneira diferente de se manifestar conforme as circunstâncias.

As partes aparecem em nossa vida naturalmente, como resultado de um processo universal de desenvolvimento. À medida em que crescemos, novas partes aparecem espontaneamente, permitindo que nos ajustemos à novas situações, sempre que as partes já existentes não forem capazes de lidar com os novos desafios.

Muitas partes desempenham um papel positivo, saudável e funcional quando estamos serenos e calmos. Quando estamos sob estresse intenso, algumas partes adotam um papel irracional e exagerado numa tentativa desesperada de nos proteger da dor, da vulnerabilidade e do risco de sermos prejudicados. Elas podem se comportar nos desvalorizando, criticando ou criando problemas com as outras pessoas. Podem nos levar a percepções distorcidas da realidade, crenças ambíguas e preconceituosas ou padrões de pensamento obsessivos. Podem ainda nos inundar de dor ou tensão corporal, diminuindo nossa capacidade de viver a vida com flexibilidade e criatividade.

Algumas podem ser expressas por sintomas físicos e estados emocionais. Quando uma parte fica muito intensa, cria um desequilíbrio interno dentro do próprio sistema. Esse universo interno só se torna problemático quando algumas partes descompensam ou reagem negativamente uma as outras. Cada parte é um aspecto do nosso próprio EU, mas que, às vezes, carregam a energia emocional e as atitudes das pessoas que foram ou são significativas em nossas vidas.  

FAMILIA INTERNA

Imagine um teatro. Nos bastidores, estão as partes latentes (excluídas) que podem ser acionadas em determinado momento, dependendo da situação ou contexto presente (interno ou externo) que as despertem, colocando-as em movimento. Quando uma parte surge no palco, ela domina nossos pensamentos, emoções e comportamentos. Cada parte atua como um filtro que nos obriga a perceber a realidade à sua maneira, de modo que, a forma como percebemos e avaliamos cada momento depende da parte atuante no palco da consciência. Também podem existir várias partes que tentam governar a situação ou estejam em conflito entre si.

SELF (EU CENTRAL)  – É um nível de consciência, acima de nossas experiências, que nos permite observá-las com calma, compaixão, curiosidade e aceitação. É o núcleo do nosso sentido mais profundo e real e também nosso centro espiritual. Nesse nível somos capazes de observar as partes sem ficarmos inundados ou identificados com elas. O SELF é o regente da orquestra da nossa personalidade. É maduro, amoroso e tem a capacidade de curar e integrar as nossas diferentes partes. Com ele acessamos um nível de maior sabedoria e entendimento que nos orienta a respeito das questões essenciais da vida. Ele é um estado de atenção plena onde a mente se observa sem julgamentos, preconceitos ou limitações, aceitando a própria experiência como ela é.

PARTES PROTETORAS (GERENTES) – Tentam manter algum nível de controle para gerenciar a vida e nos proteger contra os sentimentos de dor, vergonha, medo. Buscam nos afastar de situações ou relacionamentos que possam nos levar a sentir algum desconforto ou sermos machucados. Por exemplo, a parte protetora “perfeccionista” que não nos permite cometer erros, o que nos lembra como fomos tratados por um pai crítico na infância. Essas partes não sabem que já não estamos na infância, mas continuam tentando nos proteger da mesma forma. Cada um desenvolve suas próprias personagens, com suas próprias características, de acordo com suas próprias experiências. As pessoas com traumas graves têm dificuldade de usar suas diferentes partes de forma adequada e adaptativa.

PARTES EXCLUÍDAS ( EXILADAS) – Encontradas particularmente em pessoas que foram vítimas de maus tratos e abuso na infância. São partes que permanecem no subsolo da consciência, de onde não podem ser facilmente observadas nem alcançadas nas interações com os outros. São aspectos do EU que vivem encapsulados e isolados. Partes que ninguém vê, ninguém entende e que temem ser vistas pelos outros como indignas. Os protetores temem os excluídos porque poderiam, se vierem à tona, inundar o sistema. Como vivem reprimidos e exilados, quando um deles aparece, o faz de maneira explosiva. Habitualmente representam aspectos da personalidade rejeitados pela família durante o desenvolvimento. São partes crianças que guardam o sofrimento do passado. Estão congeladas quando o evento traumático ocorreu, e por não terem tido, na época, recursos  internos ou suporte externo necessário para gerenciar e integrar as experiências, não puderam curar sua dor, seu terror, sua vergonha, tristeza ou raiva. Um dos problemas é que as partes protetoras precisam ficar sempre ativadas na consciência para que nada desperte os excluídos. O custo é a fadiga do sistema, que começa a ficar vulnerável. Quando as circunstâncias da vida ativam as partes banidas, elas podem inundar a pessoa com dor, pânico, choro desconsolado e congelamento.

PARTES REATIVAS (BOMBEIROS) –  Essas partes tentam tomar medidas extremas quando os mecanismos de proteção não funcionam. Embora também busquem ajudar, o fazem de tal maneira que também causam danos a si próprias, devido a forma como atuam. Os comportamentos impulsivos dessas partes não conseguem amenizar ou resolver a dor ou o anseio profundo das partes excluídas.  Quando a Comunidade Interna está cheia de conflitos, eles acabam ecoando nas relações externas. Quanto mais íntima for a vivência nas relações atuais, maior será a chance de reaparecerem padrões de relações mais antigas, além da dor do passado a elas associadas. 

 

Fontes: “Mais Além do Eu” – Mário Salvador  e  “Internal Family Sistems” – Richard Swartz .

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